Outro dia, com as influências de uma lua nova em câncer, remexi nas caixas de fotos da família, na casa da minha mãe. Em meio a muitas lembranças, histórias e risadas, encontrei essa foto. Sou eu com minha bisavó paterna russa: a Anna Sazanoff.
Apesar de eu ter recebido nomes espirituais bem lindos na minha caminhada, nunca deixei de usar meu nome de nascimento, pois sou apaixonada pelas histórias das minhas antepassadas russas. Sei que, hoje, só trabalho com mulheres porque, cada uma delas, teve que, de alguma forma, sufocar seu feminino por convenções da época ou por dificuldades grandes da vida.
Essa lindeza da foto, saiu da Rússia fugida da guerra, com seu marido, filhos pequenos e grávida da minha avó. Mas, antes disso, passou por cenas de filme por lá, como ter que se esconder embaixo da ponte com sua família, incluindo os bebês, com a tropa inimiga passando por cima, rezando para que nenhuma das crianças fizesse barulho.
Ela, também, contava que costurava alimentos escondidos na roupa pra poder levar para aos filhos.
Quando deixou esse pesadelo pra trás, deixou, também, toda a sua vida, amigos, familiares, numa época em que isso significava, realmente, não saber mais nada sobre os que ficavam.
Eu nunca gostei muito de ser branca. Queria ser negra ou Índia. Nunca me liguei muito nas coisas da Rússia. Um dia, numa constelação de cavalos, me veio que deveria honrar mais minhas raízes russas. No dia seguinte, minha mãe me entregou um presente que tinha sido dessa minha bisa, uma toalha linda de linho, com um bilhete: “Essa toalha de linho foi tecida por Anna Sazanoff em 1913. Antes disso, ela plantou e colheu o linho. Presente para sua bisneta Anna Sazanoff, em 1986”.
Hoje, no altar dos meus cursos, junto com minhas toalhas andinas, medicinas Huni kuins, yawanawas, tupinambás e de varias tradições nativas, a toalha da minha bisa está sempre comigo. Está manchada com as tinturas de ervas do curso, queimada com as brasas das defumações. Mas, ainda assim, sinto a minha bisa bem feliz, ali juntinho.
Procurei a medicina da Azaleia que está atrás de nós na foto:
– “Planta que significa alegria de amar e perseverança.”
É isso.
Amor e Gratidão.