Fui uma criança esquisita que tinha uma aranha, de estimação, morando no quarto.
Ela vivia escondida atrás dos quadros, mas saía quando ouvia minha voz.
Eu era estranha a ponto de virar vegetariana, ainda criança, mesmo sem ter referência na família. Recebia o jornalzinho do greenpeace, mensalmente (numa era sem internet), e assim, aprendi a boicotar, desde cedo, empresas que faziam mal aos animais e ao meio ambiente.
Sempre fui a esquisita da escola, pois falava de coisas estranhas, numa época em que nem conhecíamos a palavra ecologia.
Fui a estranha que preferia ficar lendo livros de adultos, enquanto meus colegas iam para as festas americanas (acho que já sentia o ranço do patriarcado no: meninas doces ou salgado e meninos refrigerante).
Fui a adolescente estranha, também, num colégio onde meus colegas usavam seus moletons Hard Rock Cafe e eu minhas camisetas do Bob Marley e Janis Joplin (aliás, meu apelido era Janis), e vestidos indianos. Nesse colégio, meus amigos eram os inspetores e o tiozinho que cuidava da quadra porque não conseguia me enturmar com aquela galera tão diferente de mim.
Adorava viajar para as praias agrestes e gostava muito de ouvir as histórias dos caiçaras, pescadores e anciões nativos. Aprendi muito com eles!
Quando chegou a hora de escolher a faculdade, vi meus amigos pensando em qual carreira traria mais dinheiro e prestígio. Eu escolhi qual me deixaria mais perto da natureza: biologia.
Fui mãe cedo (aos 20 anos) e quando todos meus amigos estavam terminando a faculdade e começando carreiras em empresas promissoras, eu tava feliz trocando fraldas e fazendo velas, bijuterias, artesanatos, pintando roupas.
Nunca tirei carteira de motorista e sempre gostei de fazer tudo de bike ou a pé.
Não sei identificar nenhum carro pelo nome!
Já tentei, em alguns momentos, me encaixar. Tentar fingir que me importava com coisas que não me importava. Não dava muito certo… Toda vez que caminhava longe de mim, sentia um vazio imenso.
Mas, em toda minha vida, fui atraindo também muita gente esquisita pra perto de mim.
Gente que também tinha as mesmas esquisitices de não se importar com as coisas que o mundo todo dava importância.
Gente esquisita que ousava transformar o mundo e a si mesmos.
Chegou um momento, inclusive, que todas as minhas esquisitices se transformaram na minha principal medicina.
Tudo aquilo que, em algum momento, foi estranho, se transformou no que tenho de melhor para compartilhar com o mundo.
Como a velha lei da atração, chegam até mim (principalmente, nos atendimentos) gente que tentou, por muito tempo, ser normal e que vibra por libertar sua verdade pro mundo (sendo essa “normalidade” refletida no útero e ovário, inclusive).
Eu, também, sigo atraindo gente esquisita pra caminhar e sonhar junto.
Foto: Dani Leela e Camila Barp / Projeto Anima