Quando não tínhamos luz artificial nem telas luminosas, olhávamos para o céu.
Nele, víamos a dança cíclica das estrelas, planetas, constelações, da lua e do sol.
Dependíamos dessa observação para saber quando plantar e quando colher. Quando trabalhar e quando se recolher.
Olhávamos para toda a dança que acontecia no pai céu e víamos como isso se refletia na nossa mãe terra. Como o sol e a chuva, o calor e o frio lapidavam as gestações e o cio da terra.
Não havia colheita sem plantio, nem fertilidade sem pausa.
Respeitando o ritmo da terra, entendíamos os ritmos da natureza no corpo feminino também.
Agora, celebramos o solstício de inverno. Momento em que o sol está mais distante da terra.
O dia em que temos a noite mais longa e o dia mais curto no ano.
Antes da invasão e da colonização da América Latina, esse momento era celebrado nas culturas andinas como a festa do sol, o Inti Raymi, o início do ano andino. A festa foi proibida pelos invasores espanhóis por ser uma festividade pagã, mas, hoje em dia, ela acontece, novamente, com mescla de culturas e sincretismos.
Observar e celebrar os ciclos da lua e do sol, fora e dentro de nós, é um resgate da natureza do que realmente somos. Essa natureza indomável, que não pode ser invadida ou colonizada. Que está além de dogmas e doutrinas. Nosso espírito ingovernável.
Aproveitemos esse tempo de olhar pra dentro, nos próximos 3 meses.
De nutrir a semente de silêncio e calor interno.
Silenciar, respirar, respeitar a pausa.
Ser nosso sol interno na escuridão.
A luz, que falta fora, está iluminando dentro para que possamos explodir toda a potencialidade da flor no equinócio de primavera. Afinal, não se pode deter a primavera (amanhã há de ser outro dia)…
Ouça mais, fale menos. Ouça o silêncio. Sai da tela e vê o céu. Tome chá. Sopa. Faz escalda pés, banho de ervas, banho de assento. Oleação no corpo com óleo de gergelim claro, óleo de abacate, castanha…Tudo quentinho. Leia bons livros.
Aquece seu coração.
Não deixa a frieza do mundo te esfriar.
Festeje o sol dentro de ti.
Seja luz na escuridão.
Feliz Solstício! E um lindo mergulho no inverno pra nós!
Na foto, Tiemplo de Las Virgenes del Sol, na Isla de La Luna, no Lago Titicaca, na Bolívia… Há alguns invernos.