Hoje é dia de Pachamama!
Pachamama é nossa Mãe Terra, em quéchua.
Essa foto é da primeira vez que fui ao Peru, em 2013, e foi tirada em Chinchero, no Vale Sagrado Inca.
Chinchero é um dos lugares mais pobres que já visitei no Vale Sagrado. E o que mais choca, nesse lugar, é que uma imensa igreja espanhola foi construída sobre o templo sagrado dos incas. Literalmente, construída encima.
Da primeira vez que fui à Chinchero, entrei nessa igreja… Escura, sombria e com estátuas de dominadores espanhóis. Quando saí, encontrei essas meninas da foto, brincando entre as ruínas e perguntando se queríamos que elas nos guiassem. Aceitamos e ouvimos uma história encantada pelo olhar, de quem carrega no seu DNA, a memória do que seus antepassados viveram por ali.
Foi a melhor guiança que já tive no vale sagrado. Era a cosmovisão andina cheia de ludicidade e trouxe uma leveza, depois do choque dessa literal sobreposição de crença, cultura, religiosidade e vida, desse lugar. Quando elas contaram algo sobre os espanhóis, perguntei o que elas achavam deles. E elas me responderam que eles eram “muy malos”. Me contaram, infelizmente, no idioma do invasor.
Porque tudo isso me veio a memória hoje, no dia de Pachamama… Não sei bem.
Sei que Pachamama é essa nossa mãe que nos acolhe e está sob nossos pés em qualquer lugar que estejamos nesse planeta. Ainda assim, toda vez que ponho meus pés no vale sagrado, parece que escuto ela falando mais de perto.
Talvez, também, porque a memória desse momento me traga essa lembrança dessa falta de respeito com as culturas, crenças e vida dos povos mais ligados à terra, que aconteceu no passado e continua acontecendo até hoje. Talvez, porque quero acreditar que as novas gerações possam ver, com mais pureza, nossa ligação com essa nossa grande mãe e que, com a memória celular que carregam, de todos os abusos que aconteceram, possam caminhar com mais beleza sobre ela.